Sociedade Musical 5 de Novembro ou Banda Revoltosa

Representada por  Severino Belarmino da Silva. Fundada em 14 de janeiro de 1915, atribuída em 2013 com o título de Patrimônio Vivo pelo Governo de Pernambuco e foi contemplada, a partir de 2008, como Ponto de Cultura Revoltosa, através de convênio realizado entre a Fundarpe e o MinC.  A  instituição centenária atua na formação musical de crianças, adolescentes e jovens de baixa renda, da cidade de Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte de PE, e região.

ROTEIRO – 1 – EPISÓDIO REVOLTOSA

[ VINHETA ]

Este projeto é realizado com o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo do Estado de Pernambuco.

Josi Marinho – O Podcast Nossa História, Nossa Memória, chega com uma temporada especial, que exalta os Patrimônios Materiais e Imateriais da Zona da Mata de Pernambuco. Patrimônios eleitos pelas cidades, comunidades culturais e povos da Zona da Mata.

Josi Marinho – A Zona da Mata de Pernambuco é uma área de transição entre o litoral e o interior. A vegetação é exuberante. A economia é baseada na agricultura como cultivo de cana-de-açúcar, café, e produção de laticínios. É uma região rica culturalmente com influências indígenas, africanas e europeias, refletidas na música, culinária e tradições folclóricas.

Neste episódio a gente pega a estrada rumo ao município de Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. É na capital Estadual do Maracatu Rural, há quase 70 quilômetros do Recife, que vamos conhecer a história de uma banda centenária. Banda que, quando começou, nem instrumentos tinha. Banda que surgiu depois de uma “revolta”. Eu sou a jornalista Josi Marinho, mulher negra, cabelos lisos, produtora cultural e realizadora desse projeto. Te farei companhia nessa viagem sobre as memórias da nossa cultura. Neste episódio vamos mergulhar na história de música e transformação social da sociedade musical cinco de novembro – banda revoltosa, regida pelo maestro Severino Belarmino da silva, mais conhecido como maestro sapatão.

Crislaine Xavier  – e eu sou Cris Xavier, produtora cultural, mulher negra de cabelos cacheados. Este podcast conta com recursos de audiodescrição, importante para contar histórias para pessoas com deficiência. Então, sempre que você ouvir esse som … , você também vai ouvir minha voz descrevendo algo importante do nosso episódio. Fique à vontade para dar asas à imaginação.

Josi Marinho – o Maestro Sapatão nos recebe na sede da Banda Revoltosa, que fica na Praça Carlos Gomes, número 17, em Nazaré da Mata. 

Cris Xavier  – O lugar é um casarão antigo, de fachada amarela, com letreiros vermelhos e preserva um rico acervo com documentos, quadros, instrumentos, troféus,que contam a história da banda. Ao todo são 1000 metros quadrados. O maestro nos conduz para um grande salão, que se parece um pouco com uma quadra. Nesse espaço acontecem oficinas, ensaios,apresentações e grandes eventos. No centro existe um palco, onde durante nossa conversa um grupo de crianças tem aula de música. Vez ou outra você vai ouvir o som deles, aos fundos, no decorrer do episódio. No teto, bandeiras coloridas, que certamente deixaram o lugar mais incrível na última festa realizada aqui. O maestro sapatão é um homem negro, de .. anos, alto,  com um sorriso discreto e simpático no rosto.

Josi Marinho – importante lembrar que essa é a belíssima descrição de um patrimônio vivo do estado de pernambuco: a Banda Revoltosa. 

Maestro Sapatão  – “A Revoltosa sempre foi um Patrimônio Vivo. O Patrimônio Vivo que a gente está falando é o reconhecimento oficial do que ela já fazia, do que ela sempre foi. ela sempre teve a formação, sempre teve escola de música para formar músicos para banda. ela sempre teve uma parte social muito importante. inclusive a parte social, que trazia também muitas pessoas, que dançaram, aprenderam a dançar, aprenderam a festejar, aprenderam a curtir um natal aqui dentro da revoltosa, o carnaval aqui dentro da revoltosa, o são joão aqui, que era uma tradição forte. então, a revoltosa sempre foi patrimônio vivo e foi oficializado com o título do governo do estado de pernambuco .”

Josi Marinho – A veia viva da Revoltosa sempre pulsou no coração dos músicos. Mas o reconhecimento como Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco só veio em 2013. A banda, que tem um nome curioso,  completou em 2023 107 anos. E pensar que há mais de um século os membros “revoltados” com outra banda famosa da cidade, a Euterpina Juvenil Nazarena, conhecida como capa bode, precisaram pedir instrumentos emprestados a um padre. 

Maestro Sapatão – “A Revoltosa surgiu de uma dissidência política entre a já existente clara capa bode, que hoje é o euterpina juvenil nazareno, que tem esses dois nomes; e a cabeluda, que eram duas bandas de música daqui de nazaré. Essa dissidência política fez com que os melhores músicos, principalmente o maestro joquinha, e alguns membros importantes, pessoas importantes da sociedade daquele momento, que investiam, sempre estavam de prontidão a investir na sociedade, se afastaram, romperam. essa dissidência foi que deu origem a Revoltosa. Para tornar-se uma banda e começar a aparecer, digamos assim, no cenário musical, como banda ela teve que fazer um apelo, um pedido, ou um acordo. Esse acordo foi com o Padre Marinho, no distrito de Upatininga, da cidade de Aliança. Então os membros daqui e conhecedores evidentemente do padre marinho e foram até o Padre Marinho e fizeram um acordo. o Padre Marinho ceder instrumentos da banda de  upatininga, que existe até hoje, alguns instrumentos emprestados. E assim foi feito. Em troca disso, a Revoltosa, que não existia ainda evidentemente, para tocar na festa do dia 2 de fevereiro, que era a festa do padroeiro lá da cidade, e assim foi feito esse acordo. Então o Padre Marinho emprestou os instrumentos para Revoltosa e aí eles fizeram a primeira apresentação no dia 5 de novembro. Daí ficou conhecida como 5 de novembro,  também o outro nome que ela leva. sociedade musical cinco de novembro por ser a primeira apresentação no dia 5 de novembro.”

Josi Marinho– e imaginar que tudo isso começou com discordâncias políticas lá no ano de 1915.

Maestro Sapatão – “A origem dessa dessa dissidência foi uma dissidência política do governador agamenon magalhães, que era o governador da época. o outro também, não sei quem era o concorrente, mas tem a ver com agamenon magalhães que aí nasceu a dissidência política, certamente deve ser duas correntes políticas. Na época que claro que não deu certo, né? Não dava certo, aí saiu, não aceitou lá as formas de viver lá, e foi quando fundaram a Revoltosa”. 

Josi Marinho – Se tem uma coisa que toda Sociedade Musical 5 de Novembro se orgulha é de ser instrumento de transformação social por meio da música. É uma história que inspira e fica para a posteridade. É um trabalho de formação de plateia… admiradores… A cada apresentação, a cada desfile a meninada fica encantada com os instrumentos, com os sons e com os músicos. Sempre por volta de março, as matrículas para novos alunos e integrantes são abertas. Inclusive, agora durante nossa conversa, tem uma turma aos fundos aprendendo. 

Cris Xavier – Essa turma é formada por dezenas de alunos, todos crianças. Eles estão num palco voltado para o salão, sentados em cadeiras, formato meia-lua. No centro, um professor. As crianças não têm mais de 12 anos. Elas tocam flauta doce, que é um instrumento musical de sopro com um bico na extremidade, onde elas sopram o ar. A flauta tem um tubo com vários buraquinhos para produção das notas. É um instrumento importante na formação básica musical. A música que elas estão aprendendo a tocar é “que nem jiló, eternizada na voz do rei do baião, Luiz Gonzaga.”

Música tocada que nem jiló

Josi Marinho – o maestro sapatão tem orgulho em dizer que a banda forma músicos letrados… / aqueles que tocam e que sabem ler partitura, / que nada mais é do que a representação da música,/ dos sons, / na forma escrita.

Maestro Sapatão – No meu ponto de vista é uma organização, sociedade civil exemplar. Ela tem se organizado, em termos artísticos na formação de músicos. Como você pode observar, aqui atrás a gente tem mais ou menos 25 desse grupo, que a gente ainda tem mais três grupos. E quem vai dar sustentação a ela ao longo do tempo é essa questão da formação do aluno, para tornar o músico da banda, que não só forma para a Revoltosa, mas forma para o maracatu, para ciranda, para o coco, para as igrejas, para todos os segmentos. tanto instrumento de sopro,  trompete, trombone, sax; como também outros instrumentos. A gente tá com esse trabalho para que essa meninada seja um instrumentista, percussivo leitor. Porque é diferente de tocar sem essa ter leitura, né? Como se fosse um analfabeto, apesar de estar fazendo e faz bem feito, mas o correto é com a ciência, buscar no livro, buscar no método. A gente tá com essa inovação, todos têm que ler, todos têm que aprender a teoria os solfejo e toda aquela questão teórica da música.”

Josi Marinho  – Se engana quem pensa que toda essa formação musical acontece apenas com crianças. Adultos e idosos também têm oportunidades… O  repertório é diverso… vai do frevo de bloco, até músicas natalinas.

Maestro Sapatão –  “A gente também tem aqui a formação de adultos, pessoas, professores, funcionários públicos, pessoas aposentadas 60, 65, 70 anos, que são alunos da revoltosa. e são alunos leitores, que é aquela história da gente trabalhar sempre, dá oportunidade dessa pessoa de ser leitor. A música não é bicho de sete cabeças, não é coisa do outro mundo não. Tudo tem regra, tudo tem definição. Então, a gente tem também aqui um grupo de coral.”

Josi Marinho – Em mais de 100 anos de história, imagina a quantidade de músicos formados.// a quantidade de gente que já passou pela banda. Maestro Sapatão conta que no próximo carnaval o objetivo é homenagear o centenário de um ex-integrante.

Maestro Sapatão – “Zé Menezes, foi um aluno como esses meninos que vocês estão vendo aqui atrás. com 12 anos, ele já tocava na banda. o pai de zé menezes, seu nuto, era um dos dissidentes. fundador da revoltosa. zé menezes, que tá completando esse ano 100 anos. estamos comemorando no próximo carnaval. a gente vai tá tocando as músicas do zé menezes e por aí vai.”

Josi Marinho – A lista de figuras importantes formadas pela revoltosa não para por aí… Perguntamos ao Maestro quem são as personalidades que já passaram pela banda. Ele nem titubeou… A resposta estava pronta. A história está bem fresca na memória.

Maestro Sapatão – “a gente pega aqui seu Luiz Coração de Jesus. Eu vou falar aqui, na minha época onde eu  comecei a primeira nota, lá do ano 70 para trás, por aí 70, 80. Coração de Jesus, um cidadão comum, um sapateiro que passava o dia todo trabalhando na produção para ganhar o dinheiro, que nas noites, aquelas noites específicas, ele vinha dar aula de música. Ele tinha conhecimento musical. Era aquela pessoa mais dinâmica então ele tem importância na história porque foi ele que conduziu.”

Maestro Sapatão – “Uma pessoa inegável da história da Revoltosa, seu demétrio. Ele é um funcionário público, trabalhava na prefeitura. eu também tive a oportunidade de ser ensinado pelo seu demétrio. Trabalhava e de noite vinha fazer as aulas das crianças e fazer o ensaio na instituição da banda. outra pessoa extremamente importante é um oficial da aeronáutica que aprendeu aqui. Fábio Alves também é oficial da aeronáutica. Nilson Lopes, que é um grande maestro arranjador aí em pernambuco, um dos grandes em pernambuco. Ele passou pela banda de música, começou na Capa Bode e passou por aqui. Enfim, a gente tem muita gente importante.”

Josi Marinho – Quando você ouve falar de banda, que tipo de som vem na cabeça? Sem dúvidas os ritmos pop, pop rock, saltam logo à memória…. mas tem tanta história, tanta ancestralidade para chegar até eles. E esse é nosso objetivo aqui… falar da preservação da cultura. A banda revoltosa faz bem isso… Caminha por diversos ritmos… desde o instrumental, a forte relação com o maracatu, o frevo, o coco e a ciranda. E como o maestro gosta de falar,para tocar tudo isso “tem que ter leitura”. 

Maestro Sapatão – “É uma banda diferenciada e com foco não só na música. eu já falei, a gente tem trabalhado fortemente os outros folguedos, o maracatu, o coco, a ciranda todo esse movimento daqui da zona da mata. A gente trabalha dentro de uma literatura para que o músico seja um leitor. O menino que bate uma porca, que toca uma porca, que ele seja um leitor.”

Josi Marinho – O que encanta em tudo isso é a preocupação para que as novas gerações conheçam essa cultura e que a geração atual toque os ritmos ancestrais.

Maestro Sapatão  – “O compromisso com a cultura, porque se a gente não fizer isso a gente vai tá acabando a cultura da gente. Você vê uma ciranda de 30 anos atrás … Os instrumentos que tocavam sempre foram o trombone e o trompete. Quem era esse músico? Esse músico geralmente é uma pessoa bem idosa, isso não é sinônimo de estar dizendo que idoso… todo valor. Porque ele ali é conhecimento. Tá certo? Tem uma bagagem de conhecimento. Mas tinha um lá no engenho, bem longe na serra, não sei de quanto que quando chegava o carnaval, o maracatu, ia atrás dessa pessoa, ele não conhecia nenhuma nota musical, ele tirava o som dele lá sem saber nada absolutamente nada. Tudo tocando dentro da harmonia, dentro de um arranjo pré-estabelecido.”

Josi Marinho – É é dessa admiração, desse contato com a música, que nascem grandes profissionais. 

Maestro Sapatão  – “A gente tem aqui um professor que está  estudando doutorado. Aquele Maestro ali na frente da banda que você vê, também é o maestro do Conservatório Pernambucano de Música, da orquestra de lá. Quer dizer, o meu ensinamento que faz 37 anos.Tudo se traduz para dentro desse maracatu, dessa ciranda, desse coco, de uma forma diferenciada.  Faz gosto ver. É lindíssimo. Você vai ver um maracatu cantando, uma ciranda tocando, um coco tocando ou um outro grupo tocando, é incrível. Isso aqui é o conservatório no interior.”

Josi Marinho – Vamos para um “senta que lá vem história?” A região onde hoje fica o município de Nazaré da mata, há séculos atrás, foi explorada pelos engenhos de cana-de-açúcar.

Cris Xavier – Um engenho de cana-de-açúcar é uma instalação industrial que produz açúcar, e derivados com o processamento da cana. É tudo um pouco complexo com muitas etapas, como plantação,corte da cana,  moagem, extração do caldo, purificação, evaporação, e a cristalização para por fim chegar aos grãos de açúcar. Era um trabalho muito braçal. Atualmente esse processo foi modernizado e muitos engenhos continuam sendo importantes para a economia.

Josi Marinho – Por causa dos engenhos, pequenos vilarejos se formaram. A economia girava ao entorno da monocultura. A coroa Portuguesa chegou a distribuir terras. A cultura foi influenciada por diversos povos… Eram indígenas, europeus, escravos… A música não ficou de fora dessas influências. 

Maestro Sapatão – “Se você pegar um histórico do surgimento das bandas, ‘ela veio’ com a coroa Portuguesa. Ela foi conservada pelos senhores de engenho, pelo poderio que eles tinham. Você vê aqui na Revoltosa, o instrumento, trombone que eu tocava aqui, era francês. Todo instrumental da Revoltosa era francês. Para se adquirir um instrumento dessa modernidade todinha importada é uma fortuna e todo o instrumento dessa banda era francês. então esse pessoal era que tinha o dinheiro. Uma cidade ter uma banda era um privilégio, era um diferencial para qualquer um. Tinha também as bandas, não nessa dimensão, mas tinha as bandas lá no engenho. Então é esse é o contexto que ela vem junto com a escravidão, com os negros vêm outros instrumentos de sopro, os trombone, trompete, era uma coisa elitizada da cidade.”

Josi Marinho – E como era a música da senzala? 

Cris Xavier– a senzala era uma construção bem rústica,local onde os escravos eram obrigados a viver,muitas vezes em condições precárias.

Maestro Sapatão – “Ele fazia o movimento percussivo, aí tava lá com coco, com a ciranda. Esse envolvimento e a banda tá aí nesse meio como padrão de sustentação de crescimento desse movimento todo.”

Josi Marinho – Quanta mudança… Mudança de pensamento, de atitude… 

Maestro Sapatão – “É incrível, eu tava vendo essa mudança não só aqui. Eu posso perceber, na época que eu comecei aqui não tinha nenhuma mulher, pelo menos tocando, instrumentista. Não tinha nenhuma menina, nenhuma. Hoje você pode ver aí, a metade mais de menina. Olha você pega o coral da juventude acumulada são todas senhoras, feminino. aí você pega a direção da revoltosa, aí administração umas mulheres fora de série. entendeu? Então a Revoltosa ela é aberta, ela é dinâmica. Ela enxerga isso, enxerga todo esse potencial e acolhe todo mundo.”

Josi Marinho – Maestro, como resistir tanto tempo assim? Como manter viva essa cultura 

Maestro Sapatão –  É que Nazaré é o lugar dominante, né? Por surgir nos engenhos. Eu tenho uma revista que na verdade tinha 350 engenhos. A gente tem que ter muito cuidado que a gente vê a cultura de massa invadindo fortemente, que me dá uma tristeza danada, mas no mesmo tempo uma vontade de estar sempre reagindo para o bem. A gente tem que achar uma maneira, porque quem tá vendendo a cultura de massa tá vendendo, é o dinheiro. Ele não tá vendendo a cultura pela cultura, a cultura lá é financeira. Então aí já sabe né? O dinheiro onde entra, quem tem acesso vai predominar e vai sempre colocar. Mas essas duas bandas resistem apesar das diferenças que achar que a guerra entre a capa bode e a Revoltosa que sempre foi forte. E nem venha com questão de paz aqui você não é o papa para vim trazer paz. Aqui a gente tem que estar incentivando mesmo essa guerra. Essa guerra é a palavra forte, né?”

Josi Marinho – É sim… mas a gente entendeu que é pra ser uma disputa saudável… o público sai ganhando.// 

Maestro Sapatão – “Para poder melhorar tem que ver qual é a administração melhor. que tipo de administração de sucesso, bem sucedida tem na revoltosa? será que tem na capa  bode? O que é que tem  lá? Então essa diferença não pode deixar de existir, porque senão aí é quando a cultura de massa vai entrar e vai acabar. Deixo aqui um alerta para todos que estão nos ouvindo: vamos olhar com precisão na formação, no que tá acontecendo dentro das bandas, porque a banda ela tem muita coisa além da banda, ela faz parte de todo um contexto histórico. Tá certo?”

Josi Marinho – Sim. É um trabalho lindo e imagino que deve ser muito difícil de manter… Como preservar tudo isso?

Maestro Sapatão – “A gente não tem projeto aqui.  A gente vive de uma doação, uma parceria da prefeitura, que eu posso dizer tranquilamente de dois salários mínimos e do dinheiro do patrimônio vivo que deve ser em torno de R$ 3.500 perto de R$ 4.000. Então a soma disso tudo dá no máximo seis, sete mil reais para a gente manter uma organização. o público interno de 200 pessoas que passa aqui.”

Josi Marinho – é um desafio 

Maestro Sapatão  – “Com esse dinheiro a gente mantém essa estrutura de 1.000 m², toda essa sala, computador, impressora, quadros. Esse é o capital que a gente tem aqui. Agora como ter esses instrumentos? É um desafio! porque você pega um instrumento hoje por uma média de R$ 5.000, saxofone e tal R$5.000. Olha, quem ganha cinco, como é que pode ganhar cinco? Comprar 20 instrumentos? você tá vendo aqui atrás, o que a gente pode comprar foi flauta doce. A gente comprou 16 flautas. Tinha que botar alguma coisa na mão desses meninos, porque eles já são leitores, eles têm essa expectativa de ganhar. Então a gente botou a flauta doce e agora para botar os instrumentos na mão dele, a gente não tem como.”

Maestro Sapatão – “A gente pede a quem estiver nos ouvindo que se sensibilize com a gente através do projeto. Porque tudo que a gente precisa é botar um instrumento na mão dos meninos. Não vai botar uma arma. Bota um instrumento que ele vai transformar, ele próprio transforma o mundo, como eu tô transformando a vida de centenas, centenas de milhares de pessoas. Tô falando muito rápido, né?”

Josi Marinho – Tá não …. é empolgante entender os bastidores desse trabalho.// muitas crianças passam o dia na revoltosa. Eles recebem todo esse apoio e ainda alimentação.

Maestro Sapatão  – Eu tô nessa escola desde 1970, pois já faz 50 e alguma coisa, meio século. Estou ensinando 37. São 37 gerações”

Josi Marinho – Maestro sapatão, foi uma conversa incrível.  A gente agradece por esse registro que fica para a posteridade e por essa aula de história, música, lição de vida.

Maestro Sapatão  – eu espero que essa história continue gravada e passando para o pessoal e a meninada vendo e vindo aqui aprender música. Eu vou, tô partindo, né? Eu já estou indo embora. E vocês que fiquem essa menina dentro desse contexto, na formação para viver eternamente, porque tá se tratando de uma coisa boa. é uma coisa boa”. 

Josi Marinho – Esse foi o primeiro episódio da temporada especial do podcast nossa história, nossa memória. Tem muita coisa boa pra gente conhecer. Mas te convidamos para mergulhar ainda mais nos assuntos tratados aqui através das nossas redes sociais. Procura lá @podcastnossahistoria no instagram. Já no facebook somos Podcast Nossa História, Nossa Memória. Vamos adorar saber o que você achou do episódio.  também estamos em todas as plataformas de áudio. Começa a seguir e a curtir. Aproveita para compartilhar e comentar. E, claro, espalha esta conversa para todo mundo. Manda para os amigos, vizinhos.  Também vale a pena ouvir os episódios das nossas temporadas anteriores, com entrevistas com foco na proteção, preservação, conservação e salvaguarda dos patrimônios culturais de Pernambuco Também tem uma temporada incrível sobre a história do patrimônio ferroviário de Pernambuco. Ah, não esqueça de passar no nosso site nossahistorianossamemoria.com.br.

Josi Marinho –  Este podcast tem trilha original assinada pelo músico pernambucano João Paulo Rosa, exceto a música tocada pelos alunos da Revoltosa “Que nem jiló”, cantada por Luiz Gonzaga. O roteiro foi do jornalista Gedson Pontes. A audiodescrição é da produtora cultural Crislaine Xavier. No nosso canal do Youtube, no Facebook e no Instagram, nossos episódios estão traduzidos em libras – língua brasileira de sinais pelo tradutor Hewelyn Kimberly. A gravação, montagem e finalização é assinada pelo Batuki Stúdio. O videomaker Julio Melo; o designer Murilo silva; web designer Saulo Ferreira;  apresentação e assessoria de imprensa da Jornalista Josi Marinho; Coordenação geral e reportagem do jornalista, documentarista e produtor cultural, salatiel cícero. Até a próxima!!!!