Se você é um entusiasta de música e cultura, prepare-se para uma viagem sonora no sexto episódio do Podcast Nossa História, Nossa Memória. Neste episódio, mergulhamos na rica história da Banda Musical Euterpina de Timbaúba, um verdadeiro patrimônio cultural de Pernambuco. Fundada em 1928 pelo professor José Mendes da Silva, a banda tem sido um símbolo de resistência e renovação, capturando a essência da tradição musical da zona da mata norte de Pernambuco.
Neste episódio, gravado durante um ensaio na cidade de Timbaúba, você será transportado para o coração da música, com os sons da banda acompanhando nossa conversa. Descubra como a Banda Euterpina, após um hiato de 30 anos, renasceu das cinzas da memória coletiva para retomar seu lugar nas ruas e nos corações dos timbaubenses. Conversamos com Éder Gomes da Costa, o presidente da banda, que nos conta não só sobre a história e o impacto social da banda, mas também sobre o renascimento e a paixão que continua a alimentar essa instituição centenária.
Junte-se a nós para explorar como a Banda Euterpina se mantém relevante na comunidade, promovendo a inclusão social e educacional através da música, e como eles honram seu legado enquanto olham para o futuro com esperança e determinação.
ROTEIRO – 6 – ASSOCIAÇÃO MUSICAL EUTERPINA DE TIMBAÚBA
JOSI MARINHO – LOCUTORA JOSI MARINHO
CRIS XAVIER – DESCRIÇÃO CRIS XAVIER
TRILHA BANDA TOCANDO
JOSI MARINHO – O episódio de hoje começa diferente e com música.
TRILHA BANDA TOCANDO
JOSI MARINHO – Esse é o som da Banda Musical Euterpina De Timbaúba.
TRILHA BANDA TOCANDO
JOSI MARINHO – A banda será tema do sexto episódio do Podcast Nossa História, Nossa Memória, realizado com o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo do Estado de Pernambuco.
TRILHA BANDA TOCANDO
JOSI MARINHO – O toque dessa banda vai nos acompanhar durante toda nossa conversa. Tudo foi gravado durante um ensaio no município de Timbaúba, na zona da mata norte de Pernambuco, a mais de 100 quilômetros do Recife. Então já vai se acostumando, aí. Se tiver algum som ao fundo… um instrumento tocando ou afinando… um grupo ensaiando mais alto… é normal e faz parte.
TRILHA BANDA TOCANDO
JOSI MARINHO – Eu sou a jornalista Josi Marinho. Mulher negra, produtora cultural e realizadora desse projeto.
CRIS XAVIER – E eu sou Cris Xavier, mulher negra e produtora cultural. Você já sabe que este podcast conta com recursos de audiodescrição. Ele é importante para contar histórias para pessoas com deficiência. Esse som … (pausa) … indica que você vai ouvir minha voz descrevendo algo importante do nosso episódio.
JOSI MARINHO – A nossa parada é na Rua Odilon Barbosa dos Santos, em Timbaúba, Pernambuco. Nesse endereço fica a Associação Musical Euterpina de Timbaúba. A associação não tem fins lucrativos e se diz livre, sem discriminação de qualquer natureza. A gente vai fundo na história dessa banda, mas eu adianto que ela marcou tanto as pessoas que passaram por ela ou “viram a banda passar”, que em um determinado momento ela aposentou os instrumentos. Anos se passaram e a memória que estava bem viva na mente das pessoas, começou a incomodar. Foi então que esse som voltou às ruas.
TRILHA
JOSI MARINHO – A Banda Euterpina, como também é chamada, foi fundada há 95 anos, em nove de fevereiro de 1928. O fundador foi o professor José Mendes da Silva junto com pessoas que adoravam assistir apresentações, retretas, em igrejas, clubes e teatros. Quem nos recebe para esse bate-papo é Éder Gomes da Costa, o presidente da banda.
CRIS XAVIER – A nossa conversa acontece em uma sala de aula de música. é uma sala de aula comum, como tantas outras. No ambiente predominam as cores cinza e branco. São várias cadeiras com estantes para partituras… Pra ficar mais fácil entender, é um suporte onde as pastas com as partituras são posicionadas e o músico consegue tocar e ler ao mesmo tempo. Partitura é nada mais do que a música escrita… Ao invés de letras e palavras, existem símbolos que representam sons. O músico lê e executa. Nessa sala vários alunos participam de uma aula. Nosso entrevistado, Éder Gomes da Costa, é um homem branco, usa um chapéu e óculos.
JOSI MARINHO – Éder, seja muito bem-vindo ao nosso podcast. É um prazer falar sobre o trabalho da Banda Musical Euterpina de Timbaúba. Sem dúvidas um instrumento de transformação social. É importante destacar que a banda é Patrimônio Vivo de Pernambuco desde 2012. O que ela significa pra você e para as pessoas?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
0’41’’ – olha para a população, ela representa além do reconhecimento cultural inclusão social também. Porque muitos de nós, eu mesmo não tive condições de ir para um conservatório, muitos aqui não tiveram né? Então aqui né? Ela é um Conservatório de Música. Ela forma música. Então assim, mesmo sabendo que tem outros que já estão aqui em universidades; Universidade Federal que é o nosso amigo Pedro do trompete. Está estudando na federal licenciatura em música. Tem Murilo também. Professor Murilo Apolinário, que trabalha lá no Centro de Criatividade de Música em Recife. Saíram daqui. A base foi aqui.
JOSI MARINHO – Uma curiosidade aqui… O nome da banda vem de uma deusa da mitologia grega… Euterpe era uma das nove filhas de Zeus e Mnemósina. Ela era conhecida por ser sempre aprazível, alegre e por tocar um instrumento de sopro. A deusa era apontada por muitos como a musa da música… Éder, explica mais pra gente sobre a origem de tudo.
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
1’33’’ – Ela surgiu, segundo as fontes historiográficas, aos nove dias de fevereiro de 1928. Isso por conta da reunião de pessoas que admiram a arte, como Professor José Mendes da Silva, Antônio Galvão Cavalcante – Pai, porque teve um filho né? Ambos foram prefeitos do Município e outros, né? O próprio Maestro Augusto Rezende. Então se reuniram ali informalmente na Praça Guiomar, que fica próximo a padaria panificadora São Francisco. E que em março, no finalzinho de Março, foram para a sede do Clube Nitero Atlético daqui do município e ali deram, digamos, a pedra fundamental para fazer com que a banda surja. O professor José Mendes da Silva, que era o secretário da época que estava a frente da reunião disse: “olha, os que estão aqui vão ser os fundadores da banda, a partir desse dia.” Então pronto, aí começou. Com 10 meses depois a banda começou a se apresentar na cidade. Era formado por Comerciantes e Comerciários do município. Claro que teve sapateiros, que eram o forte da região, essa questão da sapataria e da tecelagem, aqui no nosso município.
JOSI MARINHO – E onde aconteciam os encontros, os ensaios? Existia uma sede?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
2’55’’ – o endereço principal é ali onde hoje a gente chama de Rua Nova, que é a Rua Marcelo Emiliano Sobrinho, que o prédio é de número 325. Foi o primeiro prédio. Tem as configurações que mudaram. Virou uma clínica. Virou ponto comercial. Agora é um laboratório. Inclusive Laboratório Nabuco uma das suas colocações está lá. Como ela veio ao seu término, podemos assim dizer, a diretoria então na época se reuniu, vendeu o prédio, aquela coisa toda. Então passou-se quase 30 anos dessa banda, digamos assim, viva, mas não na rua, mas viva na cabeça dos seus admiradores. Ainda aqueles que assim, não simpatizaram, que é o direito de cada um, né? É o que a banda representa. Claro ela passou quase 30 anos fechada, mas aí veio essa reunião como estava falando de reincidentes do Lions Clube, que aqui era uma antiga Cooperativa Agrícola. Então a Cooperativa Agrícola que por outros motivos, que a gente não sabe até o momento, deixou de funcionar. O Lions Clube instalou sua sede aqui e ali surgiu essa ideia de fazer com que aquilo que era impossível tornasse à tona, que é a volta de uma filarmônica numa cidade. Tendo em vista que já existia e existe a nossa coirmã que é a Sociedade Musical Primeiro de Novembro.
JOSI MARINHO – Você falou do momento em que … digamos assim… os instrumentos foram aposentados. 30 anos de poeira no saxofone, no trombone, trombeta, percussão… Mas uma coisa me chamou atenção nessa sua fala. Você diz que a banda permaneceu viva no coração das pessoas. A gente falou isso logo no início da nossa conversa. O que aconteceu?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
04’32’’ – 1928, vamos lá! Ela sai as ruas com 10 meses, digamos, de fundação. Nesses 10 meses, o que vai acontecer? Ela vai ser convidada, nesse período de 1928 até o período que ela encerra as suas atividades, ela vai ser convidada para tocar fora. O Clube Náutico Capibaribe a chamou para fazer os festejos em 1933, do aniversário do clube. A Euterpina foi tocar pro Clube Náutico Capibaribe. Tem até um livro que Dr. Jefferson Leal fala a respeito da história do carnaval de Timbaúba. A época que ele escreveu tinha 102 anos, segundo as suas fontes, né? Então ele conta a história da Euterpina. Conta a história que daqui também saiu o primeiro Momo fora do padrão. O padrão do momo é aquele homem grande, gigantesco. Um homem assim, magro, franzindo, que foi o Sebastião José da Silva, o Nino Velho, que tocou saxofone aqui na Banda e tornou-se o primeiro rei momo, digamos assim, franzino da história carnavalesca.
CRIS XAVIER – O rei momo é uma figura muito festiva, alegre, carismática, associada ao carnaval. Ele lidera os foliões e é sempre a pessoa mais animada da brincadeira. Tradicionalmente é um homem grande, forte e costuma usar roupas brilhantes, luxuosas, lembrando a realeza. Em algumas festividades costuma receber a chave da cidade em dias de carnaval.
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
05’47’’ O rei momo é aquele cara que ele tá ali, representa aquela coisa de ostentação. Por isso aquele tamanho dele. O Fausto da coisa. Veio lá de Roma. Os relatos falam que veio lá de Roma. Essa coisa mosca, a gente tá festejando, de entreter a população.
JOSI MARINHO – E como, de fato, vocês deram essa pausa?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
06’20’’ – Então veja só, o que vai acontecer? A banda ela sempre vai assim… em 1928, 1930. Tem as simpatizantes. O Colégio Santa Maria, que sempre contratava os festejos, o serviço da banda. Para fazer o quê? Apresentação nas procissões. Não só nas procissões, mas também cortejo fúnebre. Então ela fez isso aí. Chega os anos 50, essa banda participa de uma seleção chamada Salve Retreta. Foi promovida pela empresa Argos. Essa empresa Argos ela faz esse evento. Então a banda, através da regência do Mestre Carneiro, sai daqui num trem, que era ali onde funciona agora o Supermercado Evangélico, onde tá aquela Estação desativada. A Euterpina saiu com um vagão só para ela. Ela foi tocar no ano de 1954, no programa Salve Retreta ela se destacou. Então, ela é Manchete é do Diário de Pernambuco desse período.
CRIS XAVIER – As bandas musicais eram febre nos anos 1950 … 1960. Os programas de rádio na época davam destaque a esses grupos. O mais popular era o “Salve a Retreta” criado pelo radialista e produtor Luiz Maranhão Filho. O programa era um grande concurso de bandas musicais. Tocava-se de tudo… dobrados, hinos, música popular. Os grupos que se apresentavam e ganhavam destaque começavam a tocar em eventos, praças… O programa foi ao ar pela primeira vez na Rádio Tamandaré. Sete anos depois passou a ser apresentado pela Rádio Jornal do Commercio. A mídia, os jornais e empresários da época sempre estavam de olho nos novos talentos.
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
07’40’’ – os componentes da banda a bordo do trem, sob a regência do mestre Carneiro, que é natural da Cidade de Pilar e que antes é militar, agora assim a patente eu não sei qual foi a patente. Pilar, Paraíba. Inclusive ele foi Maestro da Curica. Veio para cá nos anos 50 e vindo para cá, ele assumiu a regência da banda até o início dos anos 60, infelizmente quando ele veio a óbito.
JOSI MARINHO – Vou querer saber sobre a pausa da banda, mas enquanto você narrava essa história, eu ficava imaginando essas cenas… O programa…. a manchete no jornal…. a viagem de trem. Você já conversou com alguém que viveu esse dia e que sentiu todo aquele momento?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
08’14’’ – Na época… alguns já são falecidos. Seu Nilson Perreli, que foi um dos caras que apoiou a volta da banda. Na época que a banda saiu para tocar, ele menino, ele via o pessoal vibrando. Não tinha outra coisa na cidade, a não ser as bandas de música. O pessoal vibrando, indo para as ruas ver a Euterpina, uma representação de Timbaúba, em Recife, fazendo a sua apresentação.
JOSI MARINHO – E você foi atrás desse registro histórico, eu imagino! o destaque que a imprensa deu para a banda!
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
08’45’’ – Publicou… é tanto que saiu no Diário de Pernambuco. A fonte que eu digo assim, porque eu peguei de perto. Eu fui no Arquivo Público do Estado. Eu fui a fundo pesquisar essa questão do Arquivo Público e saí saiu. O jornal desse tamanho. Uma coisa é você pegar um negócio desse e se rasurar você faz outra. Ali tem mais de 50, 70 anos com aquela matéria.
JOSI MARINHO – Agora sim. Eu ainda tenho curiosidade para saber: Quando os músicos decidiram fechar as portas? Quando eles perceberam que a banda não era mais o objetivo deles?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
09’19’’ – Porque veja bem… assim como todo time de futebol, as bandas de música, pelo menos a época como eu tô tratando aqui com vocês, ela tem suas torcidas, aquela coisa toda. E sempre a Euterpina ela sofria, vamos dizer assim, perseguição por conta de algumas entidades, de algumas autoridades, aquela coisa toda. Tinha que ir tanto juiz, como delegado, intervir na apresentação das duas, mandando cada uma ir para suas casas, para não haver um conflito maior. Porque era aquela coisa, começava a noite a retreta. Se uma tocava uma valsa, a outra tocava uma valsa. Se uma tocava um bolero, a outra tocava um bolero. O arquivista vinha com uma mala desse tamanho, parecendo um cara cheio de bala e pólvora para atirar na outra banda e assim ia. Me dá uma valsa, valsa. Bolero, bolero. Dobrado, dobrado e assim ia.
JOSI MARINHO – Me parece ter um pouco de revolta ou revolução..
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
10’16’’ – sim! Quando começava por parte dos torcedores, tanto do lado, como do outro, começava a briga. Aí entrava a polícia no meio. Cada uma para suas casas.
JOSI MARINHO – Já ficou claro que eram duas bandas, rivais…. A banda Musical Euterpina de Timbaúba de um lado e do outro a banda primeiro de novembro, mais antiga na cidade. Como é, e como era o relacionamento entre membros e torcedores?… Eu digo torcedores porque ficou claro que ambas tinham torcida.
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
10’36’’ – hoje a gente se fala normal. A gente brinca com o outro lá, tanto aqui como lá na Primeiro de Novembro. Mas a época a coisa era mais intensa. É tão tal que a minha avó era torcedora da outra banda. Ela ia para a rua gritava “ei, vai para casa. Sai daí … não sei o quê.” E hoje tem um neto que toca aqui dentro da banda, que ela, digamos assim… que até hoje ela diz “eu não gosto da banda que você toca, amo você, mas meu coração ainda é Primeiro de Novembro.” Mas tudo bem…
JOSI MARINHO – No episódio recente da nossa história política aqui no brasil, a gente aprendeu o que é polarização. Os lados ficaram claros… Tudo teve muito a ver com ideologias… O que cada um acreditava e a ideia de futuro de cada um. Isso num contexto político. Muita gente inclusive brigou com amigos, parentes. Agora, você como músico…. Como você analisa essa polarização no contexto musical? O que leva uma pessoa a concordar ou discordar da outra por causa de uma banda filarmônica?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
11’22’’ – você fala se aos olhos da época, né? Aos Olhos da época, eu acredito que era…Eu já pensei muito nisso. Eu levei a questão… muitas coisas… a citar, por exemplo, o repertório. O repertório, a técnica da regência, a afinação da bancada. E do outro lado tem a questão política. Porque aqui em Timbaúba, se a gente for voltar ao passado, Timbaúba não esteve fora desse negócio do cenário do coronelismo. Timbaúba teve chefes locais. Não é à toa que uma das ruas, a rua chamada Rua Coronel Antônio Vicente, era de um chefe político local. O cara era prefeito, mas era chefe político. Subtende-se o quê? (…) já ouvi gente mais idoso falando ficava um pouco enciumada… aquela coisa toda. E os jornais que circulavam aqui, não eram jornais, digamos… voltada para a classe trabalhadora. A voz libertária, o trabalhador, a verdade não tinha desses jornais porque os chefes políticos eram que controlavam essa mídia impressa daqui da cidade.
JOSI MARINHO – E em meio a essa briga toda… No início da década de 1960 ficou definido que a banda ia acabar. Como os timbaubenses reagiram a notícia?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
12’40’’ – veja.. pelos relatos da história oral…porque eu percebo o seguinte: o pessoal ficou triste. Aqueles que amavam a banda na época ficaram triste, mas a banda tá no juízo ainda. As memoráveis retretas, de um lado e do outro aqueles que assim, duvidavam dela voltar e até se um dia ela voltasse colocaria uma uma saia de bailarina espanhola e sairia pela rua. Isso o cara já falecido, era jovem na época, e dizia isso aí. Mas se ele tivesse vivo agora, seria o contrário. Ele iria ser um dos incentivadores das bandas de música, que inclusive seu Antônio Marinho foi uma das pessoas que foi músico daqui da Euterpina, começou aqui e foi para a Primeiro de Novembro.
CRIS XAVIER – Antônio Marinho foi músico, um dos diretores e peça fundamental da Banda Musical Primeiro de Novembro, em Timbaúba. Ele faleceu em 2022.
JOSI MARINHO – Essa história da bailarina espanhola é interessante, heim! Mas os músicos decidiram que era hora de voltar com a banda e ocupar o espaço que ela ainda tinha na memória das pessoas. Foi em 1989, depois de um hiato de 30 anos. Um grupo de amigos decidiu reativar tudo e conseguiu um local para ensaios e para guardar instrumentos. Eles reativaram a escola de música e dois anos depois saíram às ruas de Timbaúba mostrando para todo mundo o resultado desse trabalho. Ainda formularam uma frase lembrada até hoje: “muitos duvidaram, eis a Euterpina!!!”.
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
14’12’’ – Veja, seu Antônio, sempre tão básico porque são pessoas que viveram a história oral da coisa, mesmo ele conhecendo a pessoa que fez esse comentário e pediu por tudo que eu não dissesse, quem estaria vestindo a a bailarina espanhola, se caso ela termina e voltasse, ele e tantos outros duvidavam que a banda ia voltar. Mas aquela coisa, os caras que estavam no Lions Clube, eram aquelas pessoas que eram os pirralhos da época, que viam a banda tocar e que… “oxente, não existe mais? Vamos botar pra rua. Vamos fazer aquilo que é impossível, tornar-se um sonho.” Então eis aí… como vocês vão observar em uma das fotos, muito duvidaram.. Eis aí a Euterpina, que nos anos 90, início dos anos 90, a banda sai as ruas. Já tinha escola. A escola já tava começando a funcionar. O maestro na época e a sede, que essa sede é provisória. A gente tá aqui há mais de 30 anos.
JOSI MARINHO – E pra representar o momento em que esteve parada e também o novo começo, as cores da Banda Euterpina de Timbaúba são cinza e branco.
TRILHA
JOSI MARINHO – Vamos falar um pouco de repertório? Éder, começa contando pra gente como é o dia-dia da banda e como vocês formam novos músicos?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
18’33’’ – A gente faz o seguinte: tem as aulas, que a gente não cobra nada. Não cobra mensalidade nenhuma. Aqui o aluno ele vai entrar, digamos assim, em temos musicais, ele vai conhecer. Ele vai ser lapidado na música. Ao ser lapidado na música tanto o maestro, como professor, eles vão apresentar as notas, a clave, que é o primeiro sinal que aparece na música é a clave. Vai falar da importância do pentagrama, do espaço suplementar superior, do espaço suplementar inferior, a tonalidade .. Então isso aí ele vai começar a se familiarizar com as notas e as divisões, que tem o próprio método aqui, que é o método Alex Guiraldê, que é o método que a gente. Segue o método de formação de música que a gente fala na da teoria e solfejo.
JOSI MARINHO – E que técnica é essa?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
19’23’’ – Esse Alex Guiraldê, segundo o próprio maestro nos fala, ele era um francês. O que vai acontecer é que esse método aqui vai apresentar as notas e passando esse teste vai ó… aqui é a primeira lição, você vai ver as figuras das notas, uma semibreve, uma mínima, uma semínima, uma colcheia, uma semicolcheia, uma fusa. Eu acredito que todas as filarmônicas elas fazem isso. Aqui é o básico, o básico mesmo.
JOSI MARINHO – E falando de repertório… Como vocês definem as músicas? Geralmente a gente imagina bandas filarmônicas tocando marchas militares… Quais os gêneros e estilos de vocês?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
20’05’’ – Toca de tudo de Guns N’ Roses ao dobrado 220. O Guns N’ Roses é aquela música ‘ Sweet Child O’Mine” – a doce criança. Então aí toca , a gente toca essa música, como também toca os dobrados, a gente vê o dobrado como uma coisa mais formal, mais cívico, mais, digamos assim, uma abertura bem formal mesmo. A banda tá chegando na prefeitura, aí lá vai a banda tocar o dobrado ou uma marcha militar, dependente do que o maestro disser. Então assim a banda segue fazendo isso aí, como também na abertura das suas apresentações muitas bandas fazem a abertura com dobrado.
JOSI MARINHO – O evento também dita quais músicas vocês vão tocar? Por exemplo, o repertório muda de um aniversário, para uma formatura ou inauguração?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
21’03’’ – veja, aí vai muito do que o ensaio transmitir. Por exemplo, tem música que a gente: “olha vamos estudar mais essa música. Vamos botar essa daqui.” Porque o repertório também é estratégia. Eu vejo o repertório também com a parte artística, mas o repertório é uma estratégia. A Estratégia de como é que eu vou chegar ao público ali. Eu vou botar uma música lá do Tchaikovsky lá do século 19, ou eu vou tocar Mastruz com Leite,. A gente tocou na Quadra Santa Maria, a gente botou seleção do Zé Ramalho. O pessoal foi a loucura com essa música, entre outras. Como também tem um reggae. O próprio Edson Gomes, a banda tocou. Tem de tudo, não tem só aquele padrão, só dobrado ou só rock. Toca de tudo.
JOSI MARINHO – Para isso tem que contar com bons músicos e um repertório caprichado. Isso eu sei que vocês têm. A banda tem mais de 50 músicas ensaiadas. Mas a gente também sabe da difícil missão de agradar o público. Como vocês sentem a resposta do público durante uma apresentação?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
22’30’’ – Eu comigo eu sou muito chato, né? A gente avalia da seguinte forma: a atenção do público, a interação do público. O maracatu mesmo, a gente foi tocar no outro São Pedro. Como tem o compasso calado, a gente tem que se levantar, bater palma. O público bateu palma com a gente. Era a palma do público com a percussão. Depois era palma do público mais a percussão, mais os instrumentos de sopro …. e ali o pessoal, tá?
TRILHA
JOSI MARINHO – Toda essa história levou vocês a serem reconhecidos como Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco em dezembro de 2012. O que significa esse título para vocês?
Rapaz, representa e sempre vai representar toda uma luta, do que a gente vem fazendo, do que a gente vem construindo. Não deixar a coisa acabar.
JOSI MARINHO – Éder, agora falando mais do pessoal… Você está na banda há uns 30 anos. Que sentimento predomina no seu coração? Como é ser diretor, integrante e músico da Euterpina de Timbaúba?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
29’32’’ – Gratidão, desafio também. É gratidão mesmo. Hoje eu posso falar gratidão.
29’41’’ – eu estou como presidente. Perto de terminar a gestão. É um olhar diferenciado, mas com cuidado. A gente observa. Eu não sou muito de estar falando. O pessoal sabe. Eu sou muito de estar observando. Então alguma coisa ali, eu vou e converso com alguém. Vou no privado, assim, privado que eu falo é particular e converso.
TRILHA
JOSI MARINHO – 95 anos de banda em 2023… As histórias que ouvimos aqui deixam qualquer pessoa com vontade de conhecer ainda mais e de ouvir essa banda tocar ao vivo. Como essa trajetória toda é percebida pela banda?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
15’23’’ – Eu encaro como uma superação. Porque é muito difícil a gente falar porque … não é que seja tão difícil de falar, mas é como se fosse todo filme. Porque eu não sabia o que era banda de música. Vinha para cá nas férias e via seu Edson é regendo a banda. O maestro um pouco menor que o cidadão aqui à frente. Que ele é um dos remanescentes de quando a banda voltou, cabo Arnaldo aqui presente, nosso trompetista. Então um cabra assim do tamanho dele, um pouco menor, regendo a banda. Um homem daquele tamanho eu ia para um cineteatro, que agora tá desativado, o vulgo cacareco, tá sendo tombado agora pelo tempo, que tá só as paredes mesmo. Então via aquilo ali e achava aquilo Fantástico. Só que eu não sabia que era a Euterpina que ali estava. Pensava que era Primeiro de Novembro. Aí eu chegava em casa e dizia: “pai, eu vou para Primeiro de Novembro. – Você vai para onde eu mandar você. Você vai para a Euterpina. Enquanto tiver no meu teto, quem manda em você sou eu.” Aí por isso que eu vim para cá.
JOSI MARINHO – Qual o sonho para os próximos anos?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
28’54’’ – continuar formando músico, que é a nossa meta, é nosso sonho continuar formando músico. Trazer pessoas ainda mais qualificadas do que a gente para compartilhar o conhecimento.
JOSI MARINHO – Quem sentiu vontade de conhecer mais perto, pode? Como as pessoas podem fazer para chegar aqui?
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
30’08’’ – pode vir. Me procure, procure o próprio Maestro. Aí é só marcar o dia de forma antecipada e vir conhecer o nosso trabalho.
30’21’’ – A sede está localizada na rua Odilon Barbosa dos Santos, é sem número. Duas ruas por trás dos Correios. A referência, o Jacaré do galeto. Pronto, isso aí. Na subida, perto da subida do Alto da Independência.
31’47’’ – Veja aqui a gente tem um salão de ensaio, que é o salão de ensaios Stefany Cristoph, é uma homenagem que a gente fez a um músico daqui da sede. Mesmo que póstuma. A galeria, que é uma homenagem ao primeiro presidente da banda, quando a banda voltou, que foi Seu José Mário de Albuquerque Rodrigues. E o salão do ensaio em homenagem ao seu Nilson Perelle.
TRILHA
JOSI MARINHO – A nossa conversa foi incrível! É sempre muito bom falar de música, cultura e ouvir uma boa história. Éder, somos gratos por conhecer a Banda Euterpina de Timbaúba
ÉDER GOMES DA COSTA – PRESIDENTE
32’25’’ – tenho mais que agradecer. Porque isso é uma oportunidade que a banda fique mais visível ainda. Tanto aqui, como fora, até a nível internacional. Que a banda seja visível! A banda ela não está parada. Se chegar as esferas governamentais para ver que o patrimônio tá vivo e tem sentido. Maior patrimônio tá aqui, ó .Não é prédio, são as pessoas que compõem essa banda. Esse é o maior patrimônio! Tem lá dentro, se vocês quiserem, a galeria de foto, no arquivo, de música lá com quase 80, 90 anos, que fazem parte da nossa instituição.
ENCERRAMENTO
LOC – E a gente também agradece a você que chegou até aqui. É assim que termina mais um episódio da temporada especial do Podcast Nossa História, Nossa Memória sobre os Patrimônios Materiais e Imateriais da Zona da Mata
Nesta temporada, o projeto conta com apoio da Universidade de Pernambuco, Campus Mata Norte; do Ponto de Cultura Poço Comprido; Patrimônio Vivo e Ponto de Cultura Banda Curica; Patrimônio Vivo e Ponto de Cultura Banda Revoltosa; da Associação dos Maracatus de Baque Solto de Pernambuco, que é patrimônio vivo e ponto de cultura. São parceiros, ainda, o Ponto de Cultura Bloco Rural Caravana Andaluza; Associação dos Mamulengueiros e Artesãos de Glória do Goitá; o Museu do Mamulengo de Glória do Goitá; Banda Musical Euterpina de Timbaúba, patrimônio vivo de Pernambuco.
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– Na equipe deste podcast João Paulo Rosa com a trilha sonora.
– O jornalista Gedson Pontes com roteiro e montagem.
– A produtora cultural Crislaine Xavier com a audiodescrição.
– Alisson Santos com a gravação.
– Videomaker: Julio Melo.
– Designer: Murilo Silva.
– Web designer: Saulo Ferreira
– Apresentação e produção da jornalista Josi Marinho.
– No nosso canal do Youtube, nossos episódios estão traduzidos em Libras – Língua Brasileira de Sinais pela tradutora Ewelyn Xavier
– Coordenação geral e reportagem do jornalista, documentarista e produtor cultural, Salatiel Cícero.
A gente te espera no próximo episódio !!!! Até lá!!!