Este último episódio da temporada celebra a Banda Curica, a mais antiga da América Latina, fundada em 1848 em Goiana, Pernambuco. A banda tem uma rica história de mudanças sociais e culturais, refletindo a evolução da música brasileira desde a época colonial. Edson Júnior, diretor da banda, discute a herança musical, a participação das mulheres e a importância da banda na educação musical das gerações jovens da região.
ROTEIRO – 20 – BANDA CURICA
JOSI MARINHO – É com música que começamos o último episódio desta temporada do Podcast Nossa História, Nossa Memória. Foram 20 episódios que passeiam pela pluralidade das manifestações culturais da zona da mata de Pernambuco. Este projeto é realizado com o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo do Estado de Pernambuco.
JOSI MARINHO – A música que você ouviu é tocada pela banda mais antiga da américa latina: a Banda Curica… Ela está no centro do nosso episódio.
JOSI MARINHO – Nossa conversa acontece no município de Goiana, na zona da mata norte de Pernambuco. Em 2018 Goiana passou a ser considerada região metropolitana do Recife, mas em 2020 foi reintegrada a zona da mata. O município foi palco de grandes promessas de desenvolvimento com um distrito industrial. No passado distante foi palco de importantes batalhas e é uma cidade rica em cultura. Entre tantos marcos, Goiana abriga a banda mais antiga da américa latina: é o grupo de José Conrado. Em oito de setembro de 1848 foi fundada a Banda Curica. Vamos nos debruçar nessa história.
DESC – Nós estamos na sede da Banda Curica, na Rua do Rosário, número três, Centro de Goiana. É um casario de fachada simples, verde, e de esquina. Do lado de dentro, um salão e cinco salas de aula. A sede fica praticamente ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Quem nos recebe é Edson Júnior, diretor e músico da banda. Ele se considera pardo, de altura mediana, olhos escuros, cabelo crespo e usa óculos.
JOSI MARINHO – Edson, vamos começar explicando de onde vem esse trabalho da curica.
JOSI MARINHO – A banda ficou muito conhecida, mas ainda não tinha um nome definido.
DESC – Uma curiosidade sobre Dona Iria…Ela era irmã do Padre José Joaquim Camelo de Andrade e morava com mulheres escravizadas na Rua Direita, onde hoje fica a Avenida Marechal Deodoro da Fonseca, em Goiana. Ela morreu idosa e solteira. Conta a história que dona iria seguia o conselho de São Paulo que dizia “casar é bom e não casar é melhor”.
JOSI MARINHO – E foi aos poucos que a Sociedade Musical Curica foi ganhando espaço. Inclusive passou por várias sedes.
JOSI MARINHO – O que levou essas pessoas a cederem espaço para banda?
JOSI MARINHO – A Banda Curica tem 175 anos. É tanta história… Algumas sobreviveram ao tempo e outras não. A música sempre esteve presente na história do Brasil, desde os indígenas até o negros escravizados. A gente herdou e se apropriou de parte desses costumes. O que se sabe dos primeiros músicos da Curica?
JOSI MARINHO – Com o tempo muita coisa se perdeu. Imagina um instrumento e peças de 175 anos atrás… Documentos, partituras… Com as mudanças de sedes e diretorias, muitos desses materiais foram incorporados a patrimônios particulares.
JOSI MARINHO – Quando você fala que os instrumentos velhos foram trocados por novos, você acha que parte da história foi embora com ele?
JOSI MARINHO – SIM… Teve muita coisa que se perdeu, mas tenho certeza que muitas histórias sobreviveram. Mesmo aquelas que nunca foram registradas num papel. Afinal de contas desde o início do Nossa História, Nosso Memória, falamos da oralidade… Histórias contadas que passam de um para o outro.
JOSI MARINHO – E têm as histórias que você viveu…
JOSI MARINHO – EM 2005 a Sociedade Musical Curica recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.
JOSI MARINHO – Esse depoimento deixa claro a importância das políticas públicas para cultura, sobretudo, os patrimônios vivos.
JOSI MARINHO – Acho que é uma unanimidade… A música é amada por todos. É divina. Claro, que existem ritmos diversos… Mas música é música. Além de bela, é um instrumento transformador de vidas. A curica é um exemplo, né? Como é fazer música com crianças, adolescentes, jovens da periferia, das áreas rurais? Como esse instrumento tão valioso tem mudado a realidade dessas pessoas?
JOSI MARINHO – (o entrevistado está chorando bastante falando de tirar pessoas das drogas. Vamos ler esse JOSI MARINHO com voz calma, baixa, como se tivesse concordando com ele) – A Música é um alento e transforma vidas.
JOSI MARINHO – 175 anos… com certeza a Curica passou por períodos mais machistas do que hoje. historicamente, como foi a participação das mulheres na banda?
JOSI MARINHO – Eu imagino que a banda se transformou muito ao longo dos anos. Por exemplo, em 2024 o movimento cultural frevo em Pernambuco completou 117 anos. O ritmo é considerado Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Mas a curica já tinha sido fundada décadas antes.
JOSI MARINHO – Existe outra banda centenária em Goiana: a Sociedade 12 de Outubro – conhecida como Banda Saboeira. Ela é um ano mais nova do que a Banda Curica. A Saboeira tem 174 anos. A história conta que os integrantes das duas bandas eram rivais. Elas tinham torcida que incentivavam essa rivalidade.
JOSI MARINHO – Tem alguma história desse embate que chama atenção?
JOSI MARINHO – Alguém Ainda Conserva Esse Sentimento De Rivalidade?
JOSI MARINHO – Edson… Foi uma conversa incrível. Foi tão bom voltar no tempo e conhecer a história da banda curica. Obrigado por esse papo e por tanto conhecimento compartilhado.
ENCERRAMENTO (dessa vez precisa gravar tudo)
JOSI MARINHO – Gente, chegou ao fim a temporada mais do que especial do Podcast Nossa História, Nossa Memória. Aprendemos tanto e principalmente registramos histórias de pessoas que suaram, que deram o sangue e que são importantíssimas para a cultura da zona da mata norte de Pernambuco. A gente espera que você tenha gostado e também se engajado culturalmente.
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– Você pode ouvir todos os nossos episódios e temporadas anteriores em todas as plataformas de áudio.
– O nosso material também se encontra no site nossahistorianossamemoria.blog.br
– Não podemos esquecer de citar que esta temporada contou com apoio da Universidade de Pernambuco, campus mata norte; do Ponto de Cultura Poço Comprido; Patrimônio Vivo e Ponto de Cultura Banda Curica; Patrimônio Vivo e Ponto de Cultura Banda Revoltosa; da Associação dos Maracatus de Baque Solto de Pernambuco, que é Patrimônio Vivo e Ponto de Cultura. São parceiros, ainda, o Ponto de Cultura Bloco Rural Caravana Andaluza; Associação dos Mamulengueiros e Artesãos de Glória do Goitá; o Museu do Mamulengo de Glória do Goitá; Banda Musical Euterpina de Timbaúba, Patrimônio Vivo de Pernambuco.
– Fica aqui o agradecimento especial a nossa equipe nesta temporada:
– João Paulo Rosa com a trilha sonora.
– O jornalista Gedson Pontes com roteiro e montagem.
– A Produtora cultural Crislaine Xavier com a audiodescrição.
– Alisson Santos com a gravação.
– Videomaker: Julio Melo.
– Designer: Murilo Silva.
– Web Designer: Saulo Ferreira
– Apresentação e produção da jornalista Josi Marinho.
– No nosso canal do Youtube, nossos episódios estão traduzidos em Libras – Língua Brasileira de Sinais pela tradutora Ewelyn Xavier
– Coordenação geral e reportagem do jornalista, documentarista e produtor cultural, Salatiel Cícero.
– Agradecemos companhia e o prestígio!