Junte-se a nós para explorar o rico patrimônio da comunidade Quilombola em Trigueiros. Descubra como esses resilientes descendentes de escravos africanos mantêm sua vibrante cultura através de artesanato tradicional, música e atividades comunitárias, apesar dos desafios modernos.
ROTEIRO – 7 – ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA DE TRIGUEIROS
JOSI MARINHO – LOCUTORA JOSI MARINHO
DESC – DESCRIÇÃO CRIS XAVIER
JOSI MARINHO – Essa história é baseada no que disseram antepassados… Uma história de mais de 100 anos. Um registro da oralidade. Bem vindos a Comunidade Quilombola de Trigueiros.
TRILHA
JOSI MARINHO – A Associação Quilombola Trigueiros será tema do sétimo episódio do Podcast Nossa História, Nossa Memória, realizado com o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo do Estado de Pernambuco.
TRILHA
JOSI MARINHO – Eu sou a jornalista Josi Marinho. Mulher negra, produtora cultural e realizadora desse projeto.
DESC – E eu sou Cris Xavier, mulher negra e produtora cultural. Você já sabe que este podcast conta com recursos de audiodescrição. Ele é importante para contar histórias para pessoas com deficiência. Esse som … (pausa) … indica que você vai ouvir minha voz descrevendo algo importante do nosso episódio.
TRILHA
JOSI MARINHO – Para conhecer essa história, nossa equipe volta a Vicência, município da zona da mata de Pernambuco. Já estivemos aqui no episódio quatro do nosso podcast, sobre o museu poço cumprido. Se ainda não ouviu, vale a pena voltar um pouco e conhecer parte da história e origem do local. Vicência fica a 90 quilômetros do Recife e possui três distritos que ficam mais distantes do centro: Murupé, Borracha e Trigueiros… Trigueiros é uma comunidade quilombola que fica mais distante ainda, a 13 quilômetros do centro. É uma comunidade que abriga pouco mais de 360 famílias. Elas vivem do trabalho rural e de programas do Governo Federal.
TRILHA
JOSI MARINHO – Para começar essa conversa, primeiro vamos voltar no tempo. Vamos para o Brasil Colônia. A Coroa Portuguesa autorizava expedições para o interior brasileiro afim de encontrar riquezas, terras férteis, indígenas e negros para serem escravizados. Nesse contexto, onde a mão de obra existente era a escrava, muitos negros e indígenas fugiam e criavam quilombos. O mais famoso deles, talvez seja o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, liderado por Zumbi dos Palmares. O quilombo foi um dos mais duradouros e foi símbolo de luta e resistência contra escravidão. Geograficamente, essas comunidades ficavam em lugares de difícil acesso, escondidos… Justamente para dificultar a chegada dos senhores de engenho e de pessoas que literalmente caçavam os escravizados. Outros lugares foram reconhecidos como quilombos no passar do tempo. Foram comunidades negras, com pessoas que foram escravizadas ou dessedentes de escravizados, que continuaram morando por lá. Presta atenção na nossa história de hoje e no paradoxo que envolve ela…
TRILHA
JOSI MARINHO – A gente fala de um engenho chamado Trigueiros. Esse engenho teve papel importante no desenvolvimento da economia baseada no açúcar. Pernambuco se destacou com a atividade canavieira. O Engenho Trigueiros produzia açúcar bruto e cachaça. Na época da atividade, há mais de 100 anos, as terras pertenciam a Nazaré da Mata. As pessoas viviam em cabanas de palha. Os negros eram muito perseguidos pela polícia de Nazaré. Conta a história que um coronel e seu criado tocavam o terror nessa região. Os nomes deles são lembrados até hoje. Senhor Benjamin Azevedo, conhecido como Coronel da Barra e o criado Vidal, que era um carrasco negro que perseguia outros negros praticando atrocidades. A religião predominante na época era o Candomblé. Em meados dos anos de 1800, no século 19, chegou no povoado uma figura conhecida como Tenente João Gomes da Cunha Pedrosa. Ele construiu um ‘casa chalé’ com suas iniciais na fachada “JGCP” e se tornou o senhor de engenho daquela localidade. O açúcar e a cachaça produzidos ali eram levados em lombos de animais até a estação ferroviária do munícipio de Aliança e posteriormente levados de trem para o porto do Recife, onde seguia para o exterior. É aí onde entra o paradoxo… O tempo passou, mas a comunidade não. Aos poucos as pessoas foram tomando consciência do espaço que ocupavam e dessa história. Onde ontem era casa do senhor de engenho, hoje funciona uma Associação Quilombola que luta pela valorização do povo negro local. É dentro dessas paredes que João Milanez, presidente da Associação Quilombola de Trigueiros nos recebe.
TRILHA
DESC – A Comunidade Quilombola de Trigueiros, em Vicência, é um local pacato, calmo e cheio de histórias. Logo na entrada a gente se depara com uma praça e um monumento de frente, que chama muita atenção. São duas mãos com correntes quebradas presas ao pulso. São mãos que simbolizam os escravizados. Essas mãos seguram a imagem de Zumbi dos Palmares, gravada em azulejos. Em uma residência a frase pintada na fachada “sejam bem-vindos – Comunidade Quilombola Trigueiros”. Uma imagem desenhada com tinta preta mostra algumas casas e dois homens trabalhando. A nossa conversa acontece na sede da associação quilombola. É um casarão amarelo com uma varanda que vai de ponta a ponta e janelões espalhados pelas laterais, com molduras estruturais pintadas de preto. No alto da fachada as iniciais do primeiro proprietário do imóvel. Quem conversa com a gente é João Milanez, presidente da Associação Quilombola de Trigueiros. Um homem de 46 anos, branco, calvo, usa óculos e bigode.
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JOSI MARINHO – João é um prazer conversar com você sobre essa história de resistência.
0’24’’ – Essa comunidade Ela existe há mais de 100 anos. Ela surgiu com a história do Povo que veio para nossa comunidade, pessoas essas negros, brancos e pobres, que foram refugiados dos Engenhos que ficavam próximos aqui da comunidade. Daí surgiu a comunidade e hoje essa comunidade ela é certificada pela Fundação Palmares. Foi certificada no ano de 2008, em 12 de junho de 2008, e até hoje a gente continua lutando pela qualidade de vida, buscando a melhoria para esse povo. Trabalhando na questão das políticas públicas de melhorias. Seja na saúde, na educação, na assistência e na cultura.
JOSI MARINHO – Na nossa introdução falamos um pouco sobre a origem desse local. Mas há 100 anos quem eram as pessoas que viviam aqui? Existe algum registro… Algum nome…?
[01:29] – Não. A gente não tem registro. O que a gente tem são depoimentos de pessoas antigas da nossa comunidade. A exemplo Dona Mila, que morreu com 108 anos. Foi um trabalho feito, realizado na nossa comunidade com os idosos. Até então, antes de 2008, a gente não sabia porque Trigueiros e tinha necessidade. Através de uma professora da nossa comunidade, professora Adriana, que trabalhava com jovem, foi feito um trabalho de pesquisa junto também com as Universidades, para saber: por que Trigueiros? Até então ninguém sabia porque Trigueiros . Foi feito um trabalho de pesquisa com várias pessoas. Como falei, Dona Mila, Dona Nicota, Dona Dorinha Fuguista, Seu Goiô e outros colegas, e outras pessoas mais fizeram esse trabalho. A questão de Trigueiros, realmente foi surgido pelos os negros . Negros esses escravizados que vieram para cá e se aglomeraram, fugindo realmente dos Engenhos. Hoje formou a comunidade.
JOSI MARINHO – A história contada na base da oralidade. Um relato que passa de geração em geração. Fico imaginando quanta coisa se perdeu com o tempo. O nome Trigueiros, por exemplo, se sabe de onde veio?
02’36’’ – trigueiros era o nome de um dos negros que morou aqui, que vieram para cá, que foram os primeiros habitantes.
JOSI MARINHO – E como esses primeiros habitantes chegaram? Vieram de onde?
2’56’’ – As informações que a gente tem é que esses negros vinham dos engenhos aqui próximos da Usina Barra. Também vinham de Pombal, de Coitéis, de Cardoso, aqui de Canavieira. Toda essa região aqui da Mata Norte, era muito forte a questão dos Engenhos. E Trigueiros ele é localizado aqui na zona da mata norte de Pernambuco, na cidade de Vicência, e nossa comunidade ela tá 13 km da sede, que é Vicência, e também fica próximo também da cidade d Aliança que fica 7 km.
JOSI MARINHO – E como essa comunidade cresceu?
6’57’’ – Na verdade assim… Os primeiros povos realmente foram os negros. E daí vieram as pessoas, aqui também foi criado um Engenho. O que hoje é a sede da associação, era a casa do senhor de Engenho. O engenho Trigueiros. E assim, a questão da religião. O primeiro foi a Igreja Católica, que é a igreja lá na frente, que foi construída. Depois veio a questão também da Assembleia. Mas que é muito forte hoje, aqui na nossa comunidade, é questão do Evangelho. Tem outras igrejas que posso citar: a Igreja Batista, Igreja Católica, tem o padre que vem da cidade e que celebra as missa na nossa comunidade.
JOSI MARINHO – Por falar dessa questão religiosa… As religiões de matrizes africanas eram muito fortes entre o povo escravizado. Como essa relação se desenvolveu? No ponto de vista da cultura, da identidade religiosa, o que foi preservado e o que se perdeu com o tempo?
09’22’’ – é isso é muito forte. Hoje a gente fica meio… as vezes não sabe nem como falar… era muito forte a questão da religião africana da nossa comunidade. Porém, até hoje, por mais que a gente se trabalhe a questão da valorização, do respeito, da questão da cultura desse povo, e pelo fato até da própria comunidade também deixar um pouco para trás e ter a questão da religião, mas antes aqui era muito forte a questão da região africana na nossa comunidade.
E tinham vários terreiros aqui na nossa comunidade, pessoas praticantes. Vinham muitas pessoas de fora, até de outros estados, da Paraíba, que vinham aqui, que as pessoas vinham para cá Celebrar e fazer seus festejos. Embora hoje não existe. Mas a gente sabe que tem pessoas que pratica essa religião e a gente respeita. A gente enquanto representante da comunidade, enquanto o movimento, a gente tá sempre dando apoio, mas eles não mostram a cara. Tem pessoas que não sabem que as pessoas gostam desse movimento. Mas a gente enquanto Associação, enquanto comunidade, a gente sempre dá o apoio e mostra as diferenças, até porque isso faz parte da nossa história, da nossa comunidade e a gente não pode deixar para trás, respeitando toda diversidade a cultural, religião e artística desse povo.
JOSI MARINHO – Ainda nesse contexto… Como vocês avaliam a diversidade religiosa? A chegada de algumas crenças e igrejas descontruiu um pouco o ambiente cultural dos antepassados?
11’05’’ – sim, sim. Interferiu sim! Embora que a gente tem sempre feito um trabalho de conscientização. A escola é muito fundamental nesse processo de construção, de falar da história do povo e respeitando a todos, que é um papel muito importante. A escola enquanto comunidade, a questão da saúde também. A gente tem sempre buscado… a gente como mora aqui na nossa comunidade, que trabalha com o povo, não temos todos os profissionais aqui. Precisam vir profissionais de fora e quando chega a gente sempre chama para uma conversa, mostrar nossas origens, o que é que a gente tem, o que é que a gente pensa, o que é que a gente quer de melhor para o nosso povo.
TRILHA
JOSI MARINHO – As primeiras casas do quilombo eram chamadas de mocambos. Casinhas feitas de palha. Tudo muito rústico. Aos poucos as residências foram ganhando forma com taipa que era a madeira e o barro. Tudo isso devido a dificuldade geográfica.
04’09’’ – Sim! É bem importante essa fala, essa questão da localização da comunidade da gente. Na grande maioria, historicamente, essas comunidades quilombolas, esse pessoal eles procuravam os lugares realmente que eram de difícil acesso. Toda essa localidade da nossa comunidade existia muita mata. Toda essa serra aqui, que você vê aqio, era tudo cheio de Mata. Aqui tem bastante Rio. É um lugar realmente de difícil acesso. Por isso, eles vinham se localizavam para cá.
JOSI MARINHO – Você citou alguns nomes agora há pouco. Nesses mais de 100 anos quem foram as figuras importantes do quilombo?
04’53’’ -Dona Milla foi uma senhora que viveu aqui. A história dela é muito importante na nossa comunidade. Ela trabalhou muito aqui também, aqui com as pessoas, foi muito importante no processo de reconhecimento enquanto comunidade. Recebeu bastante visita aqui e falava muito sobre a importância da comunidade, da origem. Falava muito do momento também da questão da escravidão. Falava também da questão do trabalho dela. Ela fazia questão de artesanato, a questão também de fazer a louça.
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[05:50] – Dona Dorinha Foguista também é uma pessoa muito importante.
Foguista… por que foguista? O pai dela trabalhava no engenho onde fazia Mel. A mãe dela era uma pessoa da comunidade, era Parteira. Pegou praticamente todos os filhos das pessoas da nossa comunidade. Trabalhava também com louça e fazia outras coisas. Tinha também outra pessoa que eu posso destacar também… Dona Iraci Cabral, uma negra sindicalista, trabalhadora rural muito envolvida na comunidade e também era parteira. Temm também Dona Nicota, uma senhora muito ativa, principalmente na questão cultural, participava de todos os eventos da nossa comunidade, seja junto com as crianças ou com jovem. Era muito presente. E outras e outras pessoas.
TRILHA
JOSI MARINHO – Nós estamos na sede da associação. É um casarão imponente…chama atenção. Claro que ele foi reformado… Mas tem uma localização boa, fica de frente para a rua, varanda de ponta a ponta na frente do imóvel e vários janelões. Já falamos aqui que as iniciais do primeiro proprietário ainda estão na fachada… Hoje esse lugar foi ressignificado.
12:20 – Ah, esse prédio aqui que a gente tá. Isso pra gente aqui é um orgulho. Hoje é o prédio da associação, que era a casa do senhor de Engenho. é do senhor do engenho.
13’24’’ – porque isso representa pra gente enquanto comunidade, enquanto todo dia a gente enquanto Associação. Esse prédio a gente conseguiu através é da prefeitura. Foi repassado para nós. A gente conseguiu esse prédio aqui praticamente só as paredes e todo o pessoal que passava dizia que ia restaurar, que ia fazer um clube e a gente enquanto a entidade, enquanto associação, quando a gente começou lá em 2006, antes da regularização enquanto associação, mesmo antes da certificação que a gente já tá fazendo esse trabalho, a gente tinha uma casa aqui que a gente pagava o aluguel e a gente precisava de um espaço nosso. Espaço esse onde a gente poderia juntar toda a comunidade para participar das reuniões, de fazer eventos, aniversários, casamento e a gente não tinha esse espaço. E esse espaço aqui estava sobre propriedade da prefeitura municipal, que comprou esse terreno juntamente com toda essa rua aqui, próximo aqui, até a escola. Foi construída a escola, e eu acredito que nos anos 90, e ficou esse casarão aqui . A gente conseguiu através de um projeto do governo, em parceria com o banco japonês, e a gente concorreu com as Comunidades Quilombolas aqui da Mata Norte, isso é um projeto que foi feito do Governo do Estado. E a gente conseguiu restaurar esse Casarão, que é referência não só pra gente enquanto comunidade, mas aqui pra Zona da Mata Norte e Mata Sul.
JOSI MARINHO – João fala mais um pouco das características desse lugar.
15’05’’ – sim, ele tem a fachada. Ela não tá a casa grande como todo, que foi demolido, o pessoal invadiu uma parte, construíram outras casas. Mas o que ficou, a gente tentou manter toda a estrutura da casa por fora. Tem varanda, tem as siglas iniciais do dono da casa, que a família pediu pra que a gente pudesse preservar, que é até histórico de nossa comunidade. A gente vem mantendo com toda dificuldade, com a ajuda da população e também da prefeitura que dá todo total apoio a nós aqui enquanto comunidade.
15’49’’ – aqui tem cozinha, tem uma sala, tem uma sala de computação, tem um hall de entrada, tem banheiros e tem um salão para eventos e reuniões.
TRILHA
JOSI MARINHO – Vicência é o segundo município da zona da mata norte de Pernambuco a ter uma comunidade certificada como remanescente de quilombos. A certificação veio em 12 de junho de 2008 pela Fundação Cultural Palmares. A associação Quilombola Trigueiros foi fundada em novembro do mesmo ano. O objetivo foi fortalecer e desenvolver a identidade social, étnica e cultural da comunidade. Fiquei curiosa para saber como a comunidade se organizava antes da associação e porque essa entidade demorou tanto para ser criada.
16’14’’ – não, a gente sempre teve outras associações, mas era a questão da Agricultura. Porém a gente não sabia, a questão da origem da comunidade. Foi quando eu falei, teve a necessidade… tinha professora que trabalhava com os idosos e foi feito esse trabalho de pesquisa. Por que Vicência? Vicência foi a história de Vicente, foi de Dona Vicência, que foi tem um rancho que acolhia as pessoas. E a gente queria saber por que Trigueiros? Onde surgiu Trigueiros? E teve essa necessidade. A gente teve a oportunidade de participar de outros encontros com outras comunidades quilombolas que a gente se identificava e participou e foi feito esse trabalho de pesquisa. E essa certificação ela vem pela própria comunidade que são as próprias pessoas que se identificam enquanto quilombolas, porque quem diz que é quilombola ou não é a própria pessoa. Nem todas as pessoas que moram aqui na comunidade se identificam enquanto quilombolas.
JOSI MARINHO – E porque você acha que as pessoas não se identificam como quilombolas?
17’18’’ – Eu acredito, eu acho que é ignorância de certa forma. A discriminação de não aceitar a sua própria história, das pessoas, que ninguém é obrigado a seguir. Que a gente enquanto a associação, a gente não trabalha a questão de religião, a questão política partidária. A gente trabalha política pública. A gente quer o melhor pra nossa comunidade, seja na educação, na saúde, na assistência. Esse é o nosso papel enquanto associação. A gente respeita seja qual for a religião que as pessoas querem seguir.
JOSI MARINHO – Você acha que as pessoas não entendem de fato o que é ser quilombola?
18:00 – Isso… tem algumas pessoas que têm sabedoria. Tem a questão da discriminação. Ser quilombola é ser negro, é ser escravo, é ser pobre e não é isso. As pessoas que chegam aqui na sua comunidade, pessoas que têm essa imagem, quando chegam aqui se deparam e ficam assim parados. A gente sabe tem pessoas na nossa comunidade, pessoas carentes, pessoas que passam dificuldades. Mas a gente não tem ninguém miserável aqui. Aqui não tem ninguém escravo, aqui não tem nenhum tronco, ninguém apanha aqui na rua. A gente vive a história desse povo que viveu lá atrás. A gente conta através dessas pessoas que passaram e que contam nossa história. A gente tenta prevalecer, viver essa história na medida do possível, e contando para essas pessoas, principalmente para as crianças, e mostrando a história da nossa comunidade.
TRILHA
JOSI MARINHO – Vamos falar de hoje, de agora…. Estamos na área rural de Vicência… São mais de 360 famílias que moram aqui. Qual o meio de vida dessa comunidade?
18’52’’ – O quilombo, realmente, é localizado na área rural. É rodeado por cana-de-açúcar e sobrevive, realmente, do trabalho da cana-de-açúca. Uma parte funcionário público e outra parte sobrevive de Bolsa Família, o programa do Governo Federal. A maior dificuldade da gente, enquanto comunidade, não só de Trigueiros, mas eu acho que a nível de Brasil, é o problema da questão das terras. É um problema sério, porque se a gente não tem terra, não tem como plantar, as pessoas ficam difíceis. Porque todas essas terras que vivem aqui ao nosso redor são dos senhores de Engenho e essa é a maior dificuldade da gente enquanto movimento, enquanto comunidade, é a dificuldade realmente de terra para as pessoas trabalharem.
JOSI MARINHO – Em 1996 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, começou a fazer uma contagem populacional no pais. Isso ficou conhecido como censo demográfico. Quase 30 anos depois da primeira contagem, o IBGE resolveu incluir as comunidades quilombolas. Os últimos dados apontam que o Brasil possui 1,3 milhão de quilombolas. 68% vivem aqui na região Nordeste. Os problemas comuns são acesso a água, saúde, educação e principalmente a titularidade das terras. Como a Comunidade Quilombola Trigueiros se encaixa nesses dados?
21’54’’ – é Trigueiros, segundo os dados do IBGE é apontou, que hoje tem 1.107 habitantes que se consideram enquanto quilombolas. E pra gente isso é muito importante para o movimento quilombola a nível do Brasil, que foi a primeira vez que o Censo conseguiu apontar onde tá esse povo, que até então, não existia um censo que mostrava essa população. Pra gente foi muito importante, que é através desse senso que a gente trabalha também a questão das políticas públicas através do Governo do Estado, Federal e Municipal.
JOSI MARINHO – João, explica pra gente qual a importância desses números e o que esse censo impacta na realidade da comunidade. Esse número: 1.107 quilombolas era o esperado?
23’28’’ – a gente está preocupado! Porque até então, antes a população que a gente tinha era mais pessoas e com esse Censo diminuiu o número da população. Embora que todas as pessoas que foram entrevistadas, para a gente também é muito importante frisar, que eles mesmos que se identificam quantos quilombolas. Eu acho que isso é muito importante. Não é entrevistador que vai colocar lá e dizer que a pessoa é quilombola se ela não se identifica. Isso assim é muito importante esse processo. Com a diminuição da população isso vai diminuir a questão financeira de projetos, de recursos que vem beneficiar essa comunidade. Porque a gente sabe que todo projeto do Governo Federal, Estadual, Municipal se trabalha pelo número de população e com o número da população menor os recursos caem. E a gente sabe que a demanda cada dia mais tem aumentado as dificuldades da nossa comunidade como um todo.
JOSI MARINHO – Existe também a questão das pessoas abandonarem a comunidade? Pessoas que vão tentar a vida em uma cidade maior… Ou em busca de emprego em outra região?
24’42’’ – a falta de oportunidade de emprego. Porque as pessoas trabalham aqui na cana-de-açúcar. Trabalham quatro, cinco meses e o resto do ano ficam parados. A gente não tem empresa. Como eu falei, uma boa parte tem algumas pessoas que são aposentados ou uma parte é funcionário público e outra parte trabalhador rural, como falei, que trabalha na cana-de-açúcar. Aqui na nossa região tem bastante usina que foi fechada também nos anos 80, 90 e isso dificultou aqui toda a região da Mata Norte. Com isso a gente sofre bastante e por isso muitas pessoas nossas precisaram sair da nossa localidade para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e para a própria capital, Recife, buscar realmente essa qualidade de vida melhor para eles.
JOSI MARINHO – É impossível não imaginar os desafios. Século 21, o avanço tecnológico, a facilidade para desenvolver trabalhos com máquinas… Tudo isso é comum para quem vive numa metrópole ou numa área central. Mas quais os desafios de quem mora na zona rural?
26:12 – É desafiador, né? A gente mora numa comunidade Rural que precisa realmente de um olhar diferenciado. Embora seja quilombola ou não. Principalmente a questão de saúde pública. A gente precisa muito de saneamento básico. A gente tem sempre trabalhado essa questão. A questão da segurança é muito difícil, é muito precária. A gente fica praticamente aqui abandonado dentro do mato. A gente precisa realmente dessa política voltada mais para o nosso povo. E também a questão das estradas de difícil acesso. A gente no inverno aqui fica difícil, a gente fica praticamente sem sair da comunidade e a gente sempre brigado com o Governo do Estado com parceria também com o município, para dar uma qualidade melhor para que a gente possa sair da comunidade. Têm outros distritos aqui no nosso município que têm melhorado e a gente enquanto comunidade, a gente tá sempre brigando para que isso aconteça também.
JOSI MARINHO – Existe uma escola aqui na comunidade. Fiquei sabendo que foi uma conquista para vocês.
28’17’’ – Essa escola ela é fundamental aqui na nossa comunidade no processo de construção de história da comunidade, que tem feito esse trabalho com muita seriedade. É uma escola que ela é certificada também pelo MEC enquanto quilombola e tem feito esse papel. Tem os obstáculos, mas a gente tem sempre conseguido. A gente enquanto movimento também, a gente conseguiu avançar sobre a questão da Educação na nossa comunidade. A gente foi o primeiro distrito a conseguir trazer o ensino médio para nossa comunidade. (…) porque assim, a comunidade é considerada também no município, distrito, que tem quatro distritos: Angélica, Murupé, Borracha e Trigueiros.
29’33’’ – voltando a questão da educação, como falei Trigueiros foi a primeira comunidade do município a trazer o ensino médio. Pessoas idosas, jovens que tinham deixado de estudar, porque até então a gente tinha escola aqui que só funcionava até a quarta série e a gente ia para a cidade, terminar o Ensino Fundamental e Médio, e depois dessa associação, a gente trabalhando, buscando os nossos direitos, trazendo as políticas públicas para nossa comunidade, a gente conseguiu trazer isso para nossa comunidade. A gente tem fruto dessas pessoas que conseguiram ingressar na faculdade. Hoje são funcionários públicos e a gente vem continuando fazendo esse trabalho. A escola faz esse trabalho sobre a questão da educação diferenciada, da questão quilombola, que é desafio cada dia, que sempre surgem coisas novas. E é muito envolvida com a questão também do movimento a nível de estado, a nível federal, sempre procuramos participar dos eventos, seja a nível estadual ou federal, que isso é muito importante. Se a comunidade não participa, a gente fica para trás. Procuramos também sempre inserir nos conselhos também dos nossos municípios.
JOSI MARINHO – A escola trabalha as questões quilombolas?
31’25’’ – sim, também isso é muito importante frisar essa questão. A escola tem esse papel e faz com muito cuidado, a questão também do território, da ancestralidade, a questão cultural, a identidade do seu povo. Trabalha isso, muito importante.
TRILHA
JOSI MARINHO – Agora há pouco conversamos sobre algumas diferenças de quem mora numa metrópole e quem mora na zona rural. Queria agora falar sobre saúde e estrutura para atendimento médico. Temos uma geração fortemente atingida pelo estresse, ansiedade, depressão, viroses… A comunidade sofre com a falta de atenção na saúde pública?
32’39’’ – sim, sofre bastante. Aqui tem um problema muito sério, a questão do estresse, a questão também de alcoolismo, a questão da schistosoma, que também acontece aqui bastante. Muitas mulheres têm problemas de miomas, é um problema muito sério para esse povo. É uma doença muito presente nos povos negros. A dificuldade de acessar também esses serviços e a gente sabe assim, porém o município fazendo seu papel, mas a gente precisa melhorar essa qualidade. A gente tem uma unidade de saúde que a gente tem um médico, tem enfermeiro, tem dentista, tem técnica de enfermagem. É muito importante e digo mais, tem muitos profissionais também da nossa comunidade que faz parte. Isso também facilita o nosso trabalho. A enfermeira que a gente tem na nossa comunidade, técnica de enfermagem, os agente de saúde… não têm os outros profissionais porque a gente não tem . Falar também que a gente enquanto comunidade, a gente sempre briga para que os profissionais seja da nossa comunidade. Seja na área da saúde, da assistência ou da educação, porque quem vive a nossa realidade somos nós. Quem sabe o que é bom e o que é ruim, somos nós. E é importante a valorização desse povo. A gente sabe das dificuldades de conseguir terminar seus estudos e de ter uma oportunidade. A gente enquanto movimento, a gente tem sempre brigado para que dê a oportunidade ao nosso povo.
JOSI MARINHO – Existe algum ponto crítico de saúde que seria importante destacar?
34’37’’ – A gente poderia destacar a questão de uma doença, que é muito é comum, principalmente nas pessoas negras, sobre a questão da anemia falciforme. A gente tem caso aqui nossa comunidade, pessoas que são acompanhadas aqui e temos três casos confirmados e que precisa realmente fazer um estudo, fazer um trabalho, que a gente sabe que tem outros casos. É uma doença rara muito difícil de ser tratada e qualquer ocorrência que aconteça a gente tem que levar esse paciente até Recife. É preciso que o Governo do Estado tenha esse trabalho diferenciado para esse povo, que é uma doença realmente muito grave.
JOSI MARINHO – não posso deixar de te perguntar. Como foi passar pelo período mais crítico da pandemia da Covid-19? Houve muitas perdas?
36’43’’ – É foi muito difícil, né? A gente teve vários casos aqui, duas mortes e outros casos. Teve caso de internamento, pessoas que ficaram mais de três meses. Que graças a Deus estão aí contando história, estão vivas e graças a Deus. Mas a gente trabalhou bastante, a gente sofreu com falta de apoio, de assistência. A questão alimentar que o Governo Federal ficou de nos ajudar e até hoje não chegou uma cesta básica para o nosso povo. Como falei anteriormente, as pessoas sobrevivem do trabalho da cana-de-açúcar. Trabalha quatro, cinco meses… e a gente sofreu bastante. Foi muito difícil, mas a gente vem superando, vem sempre nos ajudando. É uma comunidade que todo mundo se conhece, praticamente aqui somos todos família. Quando não é família é compadre ou é comadre. Eu conheço toda a comunidade aqui, como trabalho na área de saúde que eu falei para vocês e isso tem facilitado o nosso trabalho.
TRILHA
JOSI MARINHO – A Associação Quilombola de Trigueiros tem um papel importante no desenvolvimento cultural e social da comunidade. Mas existem outras frentes de trabalho, certo? Habitação é um exemplo.
38’03’’ – isso é muito importante. A associação da gente ela não só trabalha só uma determinada situação, né? É muito Ampla a questão da associação quilombola. A gente trabalha a questão de saúde, da educação, assistência moradia cultura, tudo que envolve a comunidade a associação ela está engajada nesse processo.
O que a gente pode destacar é a questão da habitação. A gente enquanto movimento conseguiu junto ao Governo Federal construir 86 moradias para esse povo. Foram dois projetos. Projetos que ficaram na história da nossa comunidade e até da nossa região. Muitas pessoas não acreditavam, até algumas pessoas que foram beneficiadas não acreditavam na própria associação. A gente sofreu bastante e até hoje a gente sofre porque as pessoas confundem a questão da política pública, de política partidária. A gente enquanto Associação a gente Frisa bastante é muito importante a parceria com a política partidária, mas a política partidária fora da associação. As duas juntas no mesmo espaço, não tem como seguir. Precisa das mãos, precisa, mas é importante que a comunidade se Valorize se organize, que todos falem as mesma língua . A gente tá aí na luta de melhoria para o nosso povo. Tem várias pessoas aí precisando da questão da Habitação e é importante que as pessoas cheguem até nós, que possamos unir força para que as coisas possam acontecer cada vez mais.
JOSI MARINHO – Do ponto de vista cultural, o que predomina aqui? É o maracatu, o coco de roda ou a ciranda?
39’44’’ – a questão do Maracatu aqui é muito forte. Aqui a gente não tem o Maracatu, tem pessoas que participam de Maracatu em Nazaré da Mata, em Aliança, em Vicência, mas a gente não tem um Maracatu aqui. Mas assim é muito forte a questão do maracatu, a questão da Ciranda, questão do coco de roda, que o pessoal brinca bastante.
JOSI MARINHO – E como funciona a associação?
40’19’’ – a associação ela é composta por 12 integrantes. Pessoas que são escolhidas pela própria comunidade. É feita uma eleição e as pessoas que são sócias elas têm o direito de concorrer, estar na presidência. É um trabalho voluntário e a gente se divide em grupos para trabalhar essa questão e sempre buscamos parcerias também com outras entidades de fortalecimento, não só para as crianças, para as mulheres, jovens e adultos, de capacitação, de oficinas de melhoria, de qualidade de vida para esse povo.
TRILHA
JOSI MARINHO – João, além de presidente da associação, você também ocupa outro cargo importante: o de vereador. Aqui a gente não quer fazer propaganda política ou falar de um partido ou outro… Mas é um cargo e um acontecimento importante porque foi a primeira vez em mais de 100 anos que a comunidade conseguiu eleger um representante para câmara municipal de Vicência… É uma representação que não pode ser esquecida.
42:27 – Ah é muito importante. Eu sou suspeito falar disso. Eu vivo essa realidade. Hoje, eu sou o primeiro Vereador dessa comunidade, com muito orgulho. A comunidade com mais de 100 anos, como a gente tava falando, e citei o primeiro Vereador. Isso assim foi um desafio. Isso não foi um sonho, mas hoje se tornou realidade com uma vontade de Deus, primeiramente Deus, em segundo povo. Eu hoje represento a comunidade na Câmara Municipal de Vicência, e isso, a comunidade avançou bastante em alguns aspectos, precisa melhorar mais, mas a gente enquanto representante legítimo pelo povo, a gente tá sempre buscando melhoria para a nossa população, buscando os nossos direitos e cobrando lá do executivo para a efetivação dessas políticas públicas voltadas para esse pessoal.
JOSI MARINHO – Pra você enquanto quilombola, qual o sentimento de atuar em prol da comunidade?
43’31’’ – é muito gratificante, a gente sabe que boa parte das coisas depende da questão política partidária. Se não tiver realmente um representante as coisas dificultam. Eu só tenho que agradecer a Deus, a todos que acreditaram e que acreditam. Independente de ter votado ou não na minha pessoa, mas que torcem para que as coisas aconteçam de melhor para o nosso povo. É muito importante realmente é esse papel lá enquanto representante. A gente tem essa força lá, essa fala de a gente cobrar lá na Tribuna, seja através de requerimento, de projetos, melhoria para o nosso povo.
JOSI MARINHO – Você acha que demorou? A comunidade elegeu um representante político muito tarde?
44’41’’ – não acho que nunca é tarde, eu acho que tudo é no tempo certo. Deus sabe todas as coisas. O momento foi esse foi esse e a gente agarrar e tentar ter uma pessoa lá na Câmara Municipal, independente da minha pessoa ou não, que todos têm essa capacidade, seja homem ou mulher, jovem ou adulto, mas é importante que se tenha um representante nosso quilombola lá na Câmara Municipal para lutar pelos nossos direitos.
TRILHA
JOSI MARINHO – A gente não poderia encerrar essa conversa sem perguntar da luta contra o preconceito. Imagino que o preconceito ainda é muito forte.
45’35’’ – é hoje o nosso maior desafio, realmente é sobre a questão do preconceito. A gente tem que dizer a todos vocês que não está na cor da pele, mas sim, hoje é muito forte aqui na nossa comunidade, é a questão da religião.
A gente enquanto o movimento, enquanto associação, tem sempre trabalhado, buscando parceria com as igrejas mostrando a nossa história, o que é nosso direito e da participação desse povo, e de trazer eles junto pra Associação e juntar e unir força para que as coisas possam acontecer e cada vez mais em nossa comunidade.
JOSI MARINHO – João, a gente gostaria de agradecer por essa conversa… Por poder conhecer esse espaço. O trabalho feito aqui é determinante para manutenção dessa comunidade. Um trabalho de luta, resistência…e que o futuro seja muito promissor.
48’18’’ – Ah, eu desejo ver a minha comunidade todo mundo bem, tendo sua moradia própria, tendo seu pão de cada dia, não falta nada, ter uma saúde de qualidade , ter uma assistência, ter um espaço de lazer digno, principalmente para os jovens, sobre a questão do esporte, que é muito importante na nossa comunidade. A questão da valorização dos profissionais para que tudo de bom possa acontecer. Esse é meu desejo e a minha luta constante não só hoje, mas eternamente.
ENCERRAMENTO
JOSI MARINHO – E a gente também agradece a você que chegou até aqui com a gente. É assim que termina o quinto episódio da Temporada Especial do Podcast Nossa História, Nossa Memória sobre os patrimônios materiais e imateriais da zona da mata
Nesta temporada, o projeto conta com apoio da Universidade de Pernambuco, Campus Mata Norte; do Ponto de Cultura Poço Comprido; Patrimônio Vivo e Ponto de Cultura Banda Curica; Patrimônio Vivo e Ponto de Cultura Banda Revoltosa; da Associação dos Maracatus de Baque Solto de Pernambuco, que é patrimônio vivo e ponto de cultura. São parceiros, ainda, o Ponto de Cultura Bloco Rural Caravana Andaluza; Associação dos Mamulengueiros e Artesãos de Glória do Goitá; o Museu do Mamulengo de Glória do Goitá; Banda Musical Euterpina de Timbaúba, patrimônio vivo de Pernambuco.
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– Na equipe deste podcast João Paulo Rosa com a trilha sonora.
– O jornalista Gedson Pontes com roteiro e montagem.
– A produtora cultural Crislaine Xavier com a audiodescrição.
– Alisson Santos com a gravação.
– Videomaker: Julio Melo.
– Designer: Murilo Silva.
– Web designer: Saulo Ferreira
– Apresentação e produção da jornalista Josi Marinho.
– No nosso canal do Youtube, nossos episódios estão traduzidos em Libras – Língua Brasileira de Sinais pela tradutora Ewelyn Xavier
– Coordenação geral e reportagem do jornalista, documentarista e produtor cultural, Salatiel Cícero.
A gente te espera no próximo episódio !!!! Até lá!!!